Banco Central reduz Selic para 13,75% ao ano

Mantida 7 vezes seguida em 13,75%, taxa básica de juros brasileira cai pela 1ª vez em 3 anos

Depois de manter por sete vez seguida a Selic em 13,75% ao ano, o BC (Banco Central), após pressão do governo, de centrais sindicais e diversos outros segmentos da sociedade, queda da inflação, do dólar, dos combustíveis e do desemprego, entre outros, finalmente cortou os juros pela primeira vez em três anos, que estavam nesse patamar desde agosto de 2022.

O Copom (Comitê de Política Monetária), por cinco votos favoráveis a quatro contrários, reduziu a taxa básica de juros que norteia a economia brasileira em 0,5 ponto percentual, para 13,25% ao ano. A expectativa do mercado financeiro era a de que o corte fosse menor, de 0,25 ponto percentual. A definição da Selic ocorreu na última quarta-feira (2).

O comitê informou também que os oito integrantes do colegiado mais o presidente Roberto Campos Neto preveem cortes de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões, marcadas, neste ano, para 19 e 20 de agosto, 31 de outubro e 1º de novembro e 12 e 13 de dezembro. Conforme comunicado no portal do BC informando a redução da Selic, a instituição avalia que esse ritmo de corte será adequado para manter a política monetária necessária para controlar a inflação, a chamada “política monetária contracionista”, de juros que desestimulam a economia.

O BC havia reduzido a taxa de juros pela última vez em agosto de 2020, ocasião em que a Selic desceu de 2,25% para 2% ao ano, o patamar mais baixo desde 1986, início da série histórica, que se manteve até março de 2021. Nas reuniões seguintes houve 12 aumentos consecutivos, em ciclo que teve início em meio ao aumento de preços de alimentos, energia elétrica e de combustíveis. Desde agosto de 2022, o Copom manteve por sete vezes seguidas a taxa em 13,75% ao ano.

Dos oito integrantes do colegiado, o quatro que votaram pela redução de 0,5 ponto percentual foram Ailton de Aquino Santos, diretor de fiscalização; Gabriel Galípolo, de política monetária; os dois indicados pela equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva; Otávio Damaso, de regulação; e Carolina de Assis Barros, de administração.

Pelo corte de 0,25 ponto percentual votaram Fernanda Guardado, diretora de assuntos internacionais; Renato Dias Gomes, diretor de organização do sistema financeiro; Diogo Guillen, de política econômica; e Maurício Costa de Moura, de relacionamento, cidadania e supervisão de conduta. Empatado em quatro a quatro, portanto, coube ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, o voto de desempate: cinco a quatro pelo corte de 0,5 ponto.

“O comitê avalia que a melhora do quadro inflacionário, refletindo em parte os impactos defasados da política monetária, aliada à queda das expectativas de inflação para prazos mais longos, após decisão recente do Conselho Monetário Nacional sobre a meta para a inflação, permitiram acumular a confiança necessária para iniciar um ciclo gradual de flexibilização monetária”, justificou o BC no comunicado no portal.

CRÍTICAS

Em entrevista aos jornalistas na última quarta-feira (2), questionado em relação às expectativas para o resultado da reunião do Copom, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a atacar o presidente do BC, Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e que está no cargo desde o dia 28 de fevereiro de 2019.

O governo tem feito reiteradas críticas à taxa de juros mantida por Campos Neto. O presidente, seus ministros, entidades sindicais e vários outros segmentos da sociedade pressionavam pela redução da Selic estimular a economia e a geração de emprego.

“Quando a inflação cai e o juros não caem significa que aumenta a taxa de juros e o Brasil tem hoje a maior taxa de juros real do mundo sem nenhuma explicação. Vamos continuar crescendo mesmo assim. Essa vai ser a boa surpresa. Nós vamos continuar crescendo mesmo assim. Por isso eu estou tranquilo”, disse na ocasião o presidente.

TAXA SELIC

A taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) é utilizada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional e também como referência para as demais tarifas aplicadas na economia do País.

Essa taxa é a principal ferramenta do Banco Central para a tentar manter sob controle a inflação brasileira, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que no último mês de junho havia fechado em 0,08% negativo e acumula 3,16% em 12 meses. A instituição atua diariamente para manter a Selic próxima do valor definido em cada reunião, isso por meio de operações de mercado aberto, comprando e vendendo títulos públicos federais.

O IPCA fechou o ano passado acima do teto da meta de inflação. Para este ano, o CMN (Conselho Monetário Nacional) fixou como meta de inflação 3,25%, com tolerância de um ponto percentual para mais, chegando à casa de 4,75%, ou para menos, de 1,75%. 

No relatório de junho, entretanto, o BC divulgou previsão de 5% no IPCA para 2023. Já o Boletim Focus, relatório do BC com diversos indicadores de projeções econômicas, estima que a inflação oficial deve fechar o ano em 4,84%. Há um mês, as previsões do mercado financeiro estavam em 4,98%.

Nos últimos meses a inflação mostra desaceleração, isso devido a alimentos e também dos combustíveis depois da nova política de preços implementada pela Petrobras. Em maio foi a primeira vez em dois anos e meio que ao IPCA ficou abaixo de 4% no acumulado de 12 meses. 

PREVISÃO

Segundo levantamento do Boletim Focus, a expectativa do mercado é a de que a taxa básica de juros no País encerre este ano em 12,75% ao ano. O boletim resume as estatísticas calculadas que levam em consideração as expectativas de mercado coletadas até a sexta-feira anterior à sua divulgação.

A estimativa do mercado financeiro é que a Selic chegue ao fim de 2024 com queda, atingindo a casa de 10% ao ano. Já para o fim de 2025 a previsão do mercado é que recue ainda mais, a 9%, baixando para 8,75% ao ano até o fim de 2026.

Para 2024 a meta de inflação perseguida pelo BC é de 3%, percentual que se repete para 2025. A meta para 2026 ainda será definida, e divulgada em relatório no fim deste mês. 

No último relatório, o BC estimava que a economia do País deverá cresce 2% neste ano. Já o mercado projeta crescimento maior, principalmente depois da divulgação de que o PIB (Produto Interno Bruto), soma de todas as riquezas produzidas pelo País, cresceu 1,9% no primeiro trimestre. De acordo com a última edição do boletim, a previsão é a de que haja aumento de 2,24% do PIB neste ano.

Os efeitos do aperto monetário são sentidos no encarecimento do crédito e na desaceleração da economia. Porque, quando há o aumento da taxa, com objetivo de conter a demanda aquecida, há reflexo nos preços dos produtos porque juros nas alturas tornam caro o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais baixas também podem criar dificuldades para o crescimento da economia. Quando ocorre o contrário, com o BC diminuindo a Selic, o crédito tem tendência de ficar mais barato, o que cria incentivo ao consumo e à produção, diminuindo o controle sobre a inflação e estimulando a atividade econômica.